setembro 18, 2008

setembro.


e por dias penso em refazer. desfazer?
o que foi feito fez-se em pouco tempo e em poucos risos mas se desfaz aos poucos como fazem em dias frios. as imagens passam pela cabeça todas em preto-e-branco, sem cor e sem laços, por trás o vento cinza ventando em granulado. as mão dadas e os olhos longe, omissos de uma verdade que não conta mais. em meio a movimentos rápidos de quem não quer deixar marcas, as mãos sempre seguem em direção ao pescoço. acorda aflito e olha em volta para ver se mais alguém sabe. mente bem, mente tão bem que as vezes até mesmo jura pela sua verdade.
são como fotografias presas em mim, vejo de longe o vermelho-sangue da fita de cabelo da menina que sorri mansamente com medo de ferir quem vê e o homem ao lado que se posta como se não soubesse o que estava se passando.

N.

setembro 16, 2008

amor dedicado a outrem


meti a mão pelas pernas e não lembro a volta
perdida, choro mais do que nunca
o medo de me perder da única coisa que fiz ser familiar
vivo da mentira sem me apegar aos detalhes
às vezes dói
mas acho que depois de um tempo passa
e não pretende a mesma vontade de antes
passa tudo e vai embora
sem quase deixar rastros.

N.

setembro 15, 2008

'nouveau'

naquela manhã a tristeza me assolou somando-se ao pavor enfermo do que estaria por vir.
a realidade esmagadora caiu sobre mim e sob seu peso a dor pareceu rarefeita, então chorei pelo tempo que não estagnava levando cada minuto mais perto do fim. ensurdecida com as palpitações no meio do peito, desejava sermos uma música que se repete quantas vezes quiser. quis dormir para não mais pensar, mas mesmo em sonho valia-se o inadiável. mudava de lado na cama e procurava na memória tudo o que me fazia sua. acordava em meio a lençóis suados de suor sofrido, enroscava-me aos sorrisos mudos e de lá não saía até em mim ser esquecida.
naquela manhã acordei antes do tempo e já não consegui esquecer, as cores não voltaram, o dia seguiu pálido sem motivos e sem você.

N.

setembro 13, 2008

de pés frios.



quem sou tornou-se abstrato demais para ser entendido. olho no espelho e vejo alguém diferente, o rosto amortecido cada vez mais pesado como um fardo que não consegue se esconder sob mais nenhum pretexto. e mesmo as lembranças antes tão vívidas agora vivem apagadas e dissolvidas pelo tempo e pelos olhos que não brilham mais. A chuva começa a cair a fim de lavar a tarde morna e sem vida que se apossou de mim: queria ser feita de pó para os pingos tirarem um a um os pedaços, queria ser vento para cessar, queria ser feita de palavras e ser socorrida pela correcção imediata. queria ser muita coisa, mas vejo que já não o sou. O dia continua a se esgotar e nunca o barulho dos ponteiros foram tão altos. deitada na cama me dou motivos para abrir os olhos mas passo por eles como quem corre o fio do terço e o quarto escuro vai embalando-me com o som sincronizado de quem espera a morte chegar.

N.

setembro 01, 2008

quero ser bíblica, aos meus mil anos somar sermões infindáveis e viver de vós, venho das explicações parafraseadas, sou semonista enfeitado dos mais profundos túneis das catedrais que agora governo sem precedentes. das doutrinas e percepções divinas aos carneiros que forram as paredes: te convenço pela minha loucura disfarçada de graça.

N.