novembro 03, 2008

inextricável

Aos poucos sinto ir embora de mim, quase rio, por vezes minha gargalhada ecoa mas quase sempre me vêm tudo o que dipus esquecer e acaba por ecoar as horas vagas daquelas noites longas. me pego respondendo o que sempre tentei responder para todos e para mim, arrasto então os olhos para o novo que cutuca a minha auto piedade e que me faz largar depressa o telefone no gancho. juro que sou lúcida, consigo ser e ver a felicidade surgindo nos cantos, quase nem lembro de uns anos pra cá, questão de segundos, poxa. faço ser bom e dou motivos para ser lindo, tudo lindo. faço ser rápido e indolor, faço durar por anos e me lanço a alguns anos pra frente. está aqui na palma da mão a cura, a cura do mal sem fim.

N.

outubro 22, 2008

decidi ser boa, mais do que bondosa, compreensiva. fecho a mente ao mínimo sinal de desespero e me isolo dos significados para ver somente a matéria em si como é para outros. se me faz bem eu nunca terei plena certeza, mas se o receitado é estar à mercê, estarei então: estática e sorrindo a mais pura felicidade.

N.

setembro 18, 2008

setembro.


e por dias penso em refazer. desfazer?
o que foi feito fez-se em pouco tempo e em poucos risos mas se desfaz aos poucos como fazem em dias frios. as imagens passam pela cabeça todas em preto-e-branco, sem cor e sem laços, por trás o vento cinza ventando em granulado. as mão dadas e os olhos longe, omissos de uma verdade que não conta mais. em meio a movimentos rápidos de quem não quer deixar marcas, as mãos sempre seguem em direção ao pescoço. acorda aflito e olha em volta para ver se mais alguém sabe. mente bem, mente tão bem que as vezes até mesmo jura pela sua verdade.
são como fotografias presas em mim, vejo de longe o vermelho-sangue da fita de cabelo da menina que sorri mansamente com medo de ferir quem vê e o homem ao lado que se posta como se não soubesse o que estava se passando.

N.

setembro 16, 2008

amor dedicado a outrem


meti a mão pelas pernas e não lembro a volta
perdida, choro mais do que nunca
o medo de me perder da única coisa que fiz ser familiar
vivo da mentira sem me apegar aos detalhes
às vezes dói
mas acho que depois de um tempo passa
e não pretende a mesma vontade de antes
passa tudo e vai embora
sem quase deixar rastros.

N.

setembro 15, 2008

'nouveau'

naquela manhã a tristeza me assolou somando-se ao pavor enfermo do que estaria por vir.
a realidade esmagadora caiu sobre mim e sob seu peso a dor pareceu rarefeita, então chorei pelo tempo que não estagnava levando cada minuto mais perto do fim. ensurdecida com as palpitações no meio do peito, desejava sermos uma música que se repete quantas vezes quiser. quis dormir para não mais pensar, mas mesmo em sonho valia-se o inadiável. mudava de lado na cama e procurava na memória tudo o que me fazia sua. acordava em meio a lençóis suados de suor sofrido, enroscava-me aos sorrisos mudos e de lá não saía até em mim ser esquecida.
naquela manhã acordei antes do tempo e já não consegui esquecer, as cores não voltaram, o dia seguiu pálido sem motivos e sem você.

N.

setembro 13, 2008

de pés frios.



quem sou tornou-se abstrato demais para ser entendido. olho no espelho e vejo alguém diferente, o rosto amortecido cada vez mais pesado como um fardo que não consegue se esconder sob mais nenhum pretexto. e mesmo as lembranças antes tão vívidas agora vivem apagadas e dissolvidas pelo tempo e pelos olhos que não brilham mais. A chuva começa a cair a fim de lavar a tarde morna e sem vida que se apossou de mim: queria ser feita de pó para os pingos tirarem um a um os pedaços, queria ser vento para cessar, queria ser feita de palavras e ser socorrida pela correcção imediata. queria ser muita coisa, mas vejo que já não o sou. O dia continua a se esgotar e nunca o barulho dos ponteiros foram tão altos. deitada na cama me dou motivos para abrir os olhos mas passo por eles como quem corre o fio do terço e o quarto escuro vai embalando-me com o som sincronizado de quem espera a morte chegar.

N.

setembro 01, 2008

quero ser bíblica, aos meus mil anos somar sermões infindáveis e viver de vós, venho das explicações parafraseadas, sou semonista enfeitado dos mais profundos túneis das catedrais que agora governo sem precedentes. das doutrinas e percepções divinas aos carneiros que forram as paredes: te convenço pela minha loucura disfarçada de graça.

N.

agosto 07, 2008

minúcia.

e em segredo se sentia minúscula, das mais insignificantes, das mais rejeitas, não pelos os outros e sim por ela mesma. foi-se o tempo em que só de se desligar por alguma horas a felicidade vinha assim, fácil. agora, quanto mais tentava menos conseguia e quanto mais pensava, pior se sentia. e foi assim que resolveu não pensar mais. por algum tempo foi extremamente eficaz, como todas as coisas no começo são, mas aos poucos foi definhando. primeiro por dentro, lentamente, enquanto mantinha no rosto o sorriso. começava devagar como quem não quer nada, ficava ali no cantinho do peito e como um nódulo, não apresentava risco eminente, mas quando se vai atrás, percebe-se que as raízes foram fundo e vivem sedentas por algo novo, jovem e inusitado. em seguida um buraco fundo, bem fundo, uma nuvenzinha de pavor assolando a mente." se ao menos fosse assim, desse jeito tão lindo que me faz querer chorar". podia não ser nada, apenas mais uma mania barata de perfeição e nisso sabia que tinha vasta experiência, surgem e fritam os miolos. sentia o cheiro de longe. hmmmm hoje teremos filet no espeto! o espeto cravado na testa que latejava como nunca e a dor que virava mais um enfeite como os outros.
talvez fosse, talvez não, ja não me importa mais.

N.

agosto 05, 2008

sincronismo realizado com sucesso

me via andar só, o corredor longo sem fim, os murmúrios de pequenas conversas cotidianas entrando pelos ouvidos, deixando fragmentos de frases que grudam nas paredes da mente fazendo-a reluzir à falta de alguma coisa familiar. me fazia pertencer a algum tipo de grupo isolado aonde eu, no mais formoso andar, liderava solta e livremente focada em andar e somente ir. forçava a memória para reafirmar que só, estavam os outros.

N.

julho 07, 2008

devaneios.


tomo posse e finco as unhas fundo pra provar que é meu e que de lá não sairá nem por uma alma sequer. fico louca e no auge da loucura estou inatingível, faço planos para não voltar, sumir de vez, fingir que não conheço, fazer doer no fundo do peito só para provar que posso. arranco os cabelos, me unho toda, procuro outro alguém para amargar a vida. me faço outra e quero que me notem linda, única. culpo todos à sua volta por não saber mais quem culpar. quero te ferir, te ver no chão implorando de joelhos e não perdoar. rir da sua desgraça, da sua incapacidade e sentir o gosto das suas lágrimas descendo rosto abaixo. mas na calmaria me acho tola, esqueço meus motivos e me desculpo pela loucura, me desculpo e me culpo pela falta de controle. me escondo de todos que parecem saber de tudo nos mais íntimos detalhes e me assumo insensata. me desculpo por não pensar e por pensar demais, choro e me desculpo por não te olhar os olhos. escondo tudo, esqueço que aconteceu. me desculpo por ser eu, me desculpo por ter medo, me desculpo por ser sua.

N.

fevereiro 22, 2008

ali ó.

de tão bom me dói os ossos. a cada piscada meus olhos se enchem de lágrimas e me seguro como nunca pra não chorar, mas eu falo que se choro é de tanta alegria junta num lugar só, pulsante, rasgando o peito para no mínimo descuido fugir. enlaço meus braços ao redor de suas costas e reparo como nunca consegui juntar minhas mãos, aperto o mais forte que consigo e descanço a cabeça no seu peito. nunca vi um coração bater tão forte, retumba nos órgãos, ouço bem em qualquer parte do corpo. o coração trabalhando maquinalmente e o cérebro instintivamente. dai vai e formula as mais variadas loucuras, tem o delírio preso no peito esse daí.

N.

janeiro 08, 2008

mais...

Sempre achou que seria diferente de como é agora. Mais depravado, mais extasiante, com alguma coisa a mais. Mais consistência, mais força, mais vontade, mais. Precisava de um lugar seguro aonde nada pudesse lhe atingir, mas em que fosse livre para girar em torno de seu próprio corpo. Precisava de um par de braços que lhe guiassem através dos anos e dissessem o que fazer. Precisava que lhe dissessem o quanto era importante e o quanto brilhante viria a ser. Precisava de alguma coisa forte que acolhesse os nervos e a escondesse na confiança que há muito perdeu.
Desconfiava que não precisava daquilo, mas decidiu que seria assim e ponto.

N.