junho 10, 2011

mais por menos


Tenho medo de ter adormecido em uma cama que não era minha e a impressão de ter acordado de um sonho muito longo. Simplesmente me ocorreu que esse sonho ainda se arrasta e me priva de agir sem amarras ou repreensão. O medo maior está no que se fez ser, aos poucos, com modos e permissões concedidas a alguém que se deixou esquecer sua própria vontade de ser.
Uma situação em teoria benevolente mas que suja debaixo das unhas de terra e traz, toda vez que é questionada, a mentira que foi inventada pra não levar bronca. Isso ou a simples aceitação do erro inexistente. Atos que não condizem, palavras não proferidas, mas aceitas de bom tom para não ferir o acordo. Como se a garganta estivesse apertando, devagar, cuspindo pequenas mágoas quando ninguém pode mais ouvir, a culpa se dissipa e permite a mim imaginar se culpa era o que deveria carregar nas costas. Erros não perdoados e que nunca serão. O medo inundando então ambas as partes, medo de ser de novo quem quis errar, de quem quis desistir e procurar outros modos de ser o que se tem vontade. Dentre milhares de situações, uma manhã despertou o que estava de canto, preso pela necessidade de acertar sem interferências animalescas.

novembro 03, 2008

inextricável

Aos poucos sinto ir embora de mim, quase rio, por vezes minha gargalhada ecoa mas quase sempre me vêm tudo o que dipus esquecer e acaba por ecoar as horas vagas daquelas noites longas. me pego respondendo o que sempre tentei responder para todos e para mim, arrasto então os olhos para o novo que cutuca a minha auto piedade e que me faz largar depressa o telefone no gancho. juro que sou lúcida, consigo ser e ver a felicidade surgindo nos cantos, quase nem lembro de uns anos pra cá, questão de segundos, poxa. faço ser bom e dou motivos para ser lindo, tudo lindo. faço ser rápido e indolor, faço durar por anos e me lanço a alguns anos pra frente. está aqui na palma da mão a cura, a cura do mal sem fim.

N.

outubro 22, 2008

decidi ser boa, mais do que bondosa, compreensiva. fecho a mente ao mínimo sinal de desespero e me isolo dos significados para ver somente a matéria em si como é para outros. se me faz bem eu nunca terei plena certeza, mas se o receitado é estar à mercê, estarei então: estática e sorrindo a mais pura felicidade.

N.

setembro 18, 2008

setembro.


e por dias penso em refazer. desfazer?
o que foi feito fez-se em pouco tempo e em poucos risos mas se desfaz aos poucos como fazem em dias frios. as imagens passam pela cabeça todas em preto-e-branco, sem cor e sem laços, por trás o vento cinza ventando em granulado. as mão dadas e os olhos longe, omissos de uma verdade que não conta mais. em meio a movimentos rápidos de quem não quer deixar marcas, as mãos sempre seguem em direção ao pescoço. acorda aflito e olha em volta para ver se mais alguém sabe. mente bem, mente tão bem que as vezes até mesmo jura pela sua verdade.
são como fotografias presas em mim, vejo de longe o vermelho-sangue da fita de cabelo da menina que sorri mansamente com medo de ferir quem vê e o homem ao lado que se posta como se não soubesse o que estava se passando.

N.

setembro 16, 2008

amor dedicado a outrem


meti a mão pelas pernas e não lembro a volta
perdida, choro mais do que nunca
o medo de me perder da única coisa que fiz ser familiar
vivo da mentira sem me apegar aos detalhes
às vezes dói
mas acho que depois de um tempo passa
e não pretende a mesma vontade de antes
passa tudo e vai embora
sem quase deixar rastros.

N.

setembro 15, 2008

'nouveau'

naquela manhã a tristeza me assolou somando-se ao pavor enfermo do que estaria por vir.
a realidade esmagadora caiu sobre mim e sob seu peso a dor pareceu rarefeita, então chorei pelo tempo que não estagnava levando cada minuto mais perto do fim. ensurdecida com as palpitações no meio do peito, desejava sermos uma música que se repete quantas vezes quiser. quis dormir para não mais pensar, mas mesmo em sonho valia-se o inadiável. mudava de lado na cama e procurava na memória tudo o que me fazia sua. acordava em meio a lençóis suados de suor sofrido, enroscava-me aos sorrisos mudos e de lá não saía até em mim ser esquecida.
naquela manhã acordei antes do tempo e já não consegui esquecer, as cores não voltaram, o dia seguiu pálido sem motivos e sem você.

N.

setembro 13, 2008

de pés frios.



quem sou tornou-se abstrato demais para ser entendido. olho no espelho e vejo alguém diferente, o rosto amortecido cada vez mais pesado como um fardo que não consegue se esconder sob mais nenhum pretexto. e mesmo as lembranças antes tão vívidas agora vivem apagadas e dissolvidas pelo tempo e pelos olhos que não brilham mais. A chuva começa a cair a fim de lavar a tarde morna e sem vida que se apossou de mim: queria ser feita de pó para os pingos tirarem um a um os pedaços, queria ser vento para cessar, queria ser feita de palavras e ser socorrida pela correcção imediata. queria ser muita coisa, mas vejo que já não o sou. O dia continua a se esgotar e nunca o barulho dos ponteiros foram tão altos. deitada na cama me dou motivos para abrir os olhos mas passo por eles como quem corre o fio do terço e o quarto escuro vai embalando-me com o som sincronizado de quem espera a morte chegar.

N.

setembro 01, 2008

quero ser bíblica, aos meus mil anos somar sermões infindáveis e viver de vós, venho das explicações parafraseadas, sou semonista enfeitado dos mais profundos túneis das catedrais que agora governo sem precedentes. das doutrinas e percepções divinas aos carneiros que forram as paredes: te convenço pela minha loucura disfarçada de graça.

N.

agosto 07, 2008

minúcia.

e em segredo se sentia minúscula, das mais insignificantes, das mais rejeitas, não pelos os outros e sim por ela mesma. foi-se o tempo em que só de se desligar por alguma horas a felicidade vinha assim, fácil. agora, quanto mais tentava menos conseguia e quanto mais pensava, pior se sentia. e foi assim que resolveu não pensar mais. por algum tempo foi extremamente eficaz, como todas as coisas no começo são, mas aos poucos foi definhando. primeiro por dentro, lentamente, enquanto mantinha no rosto o sorriso. começava devagar como quem não quer nada, ficava ali no cantinho do peito e como um nódulo, não apresentava risco eminente, mas quando se vai atrás, percebe-se que as raízes foram fundo e vivem sedentas por algo novo, jovem e inusitado. em seguida um buraco fundo, bem fundo, uma nuvenzinha de pavor assolando a mente." se ao menos fosse assim, desse jeito tão lindo que me faz querer chorar". podia não ser nada, apenas mais uma mania barata de perfeição e nisso sabia que tinha vasta experiência, surgem e fritam os miolos. sentia o cheiro de longe. hmmmm hoje teremos filet no espeto! o espeto cravado na testa que latejava como nunca e a dor que virava mais um enfeite como os outros.
talvez fosse, talvez não, ja não me importa mais.

N.

agosto 05, 2008

sincronismo realizado com sucesso

me via andar só, o corredor longo sem fim, os murmúrios de pequenas conversas cotidianas entrando pelos ouvidos, deixando fragmentos de frases que grudam nas paredes da mente fazendo-a reluzir à falta de alguma coisa familiar. me fazia pertencer a algum tipo de grupo isolado aonde eu, no mais formoso andar, liderava solta e livremente focada em andar e somente ir. forçava a memória para reafirmar que só, estavam os outros.

N.

julho 07, 2008

devaneios.


tomo posse e finco as unhas fundo pra provar que é meu e que de lá não sairá nem por uma alma sequer. fico louca e no auge da loucura estou inatingível, faço planos para não voltar, sumir de vez, fingir que não conheço, fazer doer no fundo do peito só para provar que posso. arranco os cabelos, me unho toda, procuro outro alguém para amargar a vida. me faço outra e quero que me notem linda, única. culpo todos à sua volta por não saber mais quem culpar. quero te ferir, te ver no chão implorando de joelhos e não perdoar. rir da sua desgraça, da sua incapacidade e sentir o gosto das suas lágrimas descendo rosto abaixo. mas na calmaria me acho tola, esqueço meus motivos e me desculpo pela loucura, me desculpo e me culpo pela falta de controle. me escondo de todos que parecem saber de tudo nos mais íntimos detalhes e me assumo insensata. me desculpo por não pensar e por pensar demais, choro e me desculpo por não te olhar os olhos. escondo tudo, esqueço que aconteceu. me desculpo por ser eu, me desculpo por ter medo, me desculpo por ser sua.

N.

fevereiro 22, 2008

ali ó.

de tão bom me dói os ossos. a cada piscada meus olhos se enchem de lágrimas e me seguro como nunca pra não chorar, mas eu falo que se choro é de tanta alegria junta num lugar só, pulsante, rasgando o peito para no mínimo descuido fugir. enlaço meus braços ao redor de suas costas e reparo como nunca consegui juntar minhas mãos, aperto o mais forte que consigo e descanço a cabeça no seu peito. nunca vi um coração bater tão forte, retumba nos órgãos, ouço bem em qualquer parte do corpo. o coração trabalhando maquinalmente e o cérebro instintivamente. dai vai e formula as mais variadas loucuras, tem o delírio preso no peito esse daí.

N.

janeiro 08, 2008

mais...

Sempre achou que seria diferente de como é agora. Mais depravado, mais extasiante, com alguma coisa a mais. Mais consistência, mais força, mais vontade, mais. Precisava de um lugar seguro aonde nada pudesse lhe atingir, mas em que fosse livre para girar em torno de seu próprio corpo. Precisava de um par de braços que lhe guiassem através dos anos e dissessem o que fazer. Precisava que lhe dissessem o quanto era importante e o quanto brilhante viria a ser. Precisava de alguma coisa forte que acolhesse os nervos e a escondesse na confiança que há muito perdeu.
Desconfiava que não precisava daquilo, mas decidiu que seria assim e ponto.

N.

dezembro 24, 2007


reclama, reclama, reclama. só abre a boca pra isso. a vejo colada aos cantos resmungando para a perede do oco do corpo, das pernas que pendem, do tato que se esvai. abre a boquinha contando palavras, sussurando dias e noites de plena lembrança dolorida e rouquidão interna. abotoa com um botãozinho a boca há pouco escancarada de pavor. tem um ar muito virginal e não me parece ter sido de alguém em nenhuma de suas vidas, mas de virginal só deve ter o ar, de vez em outra lhe escapa uma dessas histórias cabulosas. enrroscada dos pés a cabeça. duração de anos, três, cinco deles e o rosto liso, livre de qualquer preocupação ou vincos...

N.

junho 25, 2007

incompleto

Tinha uma estatura pequena, porém seus ombros e braços definiam-se sob a blusa. tinha um rosto magro, as bochechas encolhiam-se suavemente e os olhos brilhavam pequenos com dizeres subtendidos. as unhas vermelhas e quadradas guarneciam as mãos ásperas de veias saltadas. Vinha todos os dias na mesma hora e pedia sempre a mesma coisa, um café simples para viagem. Sentava-se longe dos outros e fazia-se desinteressada pelas trivialidades das conversas matinais dos demais. Carregava consigo um livro surrado de capa preta e páginas amareladas, ficava ao lado observando de canto de olho qualquer olhar fixado na sua incógnita. Todos pareciam conhecê-la e ao mesmo tempo procurar alguma resposta para o seu anonimato. Tinha gestos suaves e uma mania incontrolável de tocar os cabelos. as vezes a via escrevendo num grande maço de papéis dobrados ao meio olhando de esguelha para quem chegasse perto.
o contato físico era quase impossível, uma vez ou outra procurava suas mãos sobre o balcão, ela com um olhar de falso desinteresse deixava os pulsos à mostra, eram pulsos finos fazendo o relógio abotoar na última casa e ainda assim sobrando espaço na pulseira. peguei-a olhando-me por de trás do livro, sorrindo com a conquista, pois sabia perfeitamente que os meus olhares agora eram dela. as pessoas eram sua diversão, sorria por dentro a cada encontro de olhares, trocávamos palavras de agradecimentos pelo menos duas vezes por dia. conhecia-me tão bem quanto o mais íntimo dos meus relacionamentos, dela eu sabia só o nome.

N.

março 26, 2007

O dia seguinte.

Esse tipo de coisa sempre acontece nas horas vagas de uma noite longa. não todas as vezes, mas na maior parte delas. é o tipo de coisa que se deve pensar muito bem antes de se fazer. antes e depois. Mas depois a gente sempre pensa e pensa o dobro pra compensar a falta de pensamento. o pior é que me pergunto: faria de novo? não sei, faria? sim, claro. uma delícia de vício.
de errado? quase tudo.
o dilúvio de pensamentos turbilhonados numa noite fria de um mês impróprio. e se pudesse voltar atrás? voltaria, com certeza. voltaria e lhe daria um soco nas têmporas seguido de um belo chute no estômago. até cuspiria em cima pra dar aquele toque de acabado.
ai está, fodi com você de vez.
literalmente ou não, agora já não faz tanta diferença assim.
Mas aquela noite suas mãos estavam tranqüilamente colocadas sobre o colo e eu sabia, tinha a certeza de que não deveria, mas isso pra mim nunca foi e continua não sendo um motivo muito concreto, de qualquer jeito, agora só me resta esperar por alguma outra parte que faça algum tipo de sentido.

N.

fevereiro 15, 2007

verde claro.

Um par de olhos sorrindo de longe procurando alguma coisa para olhar, olha fixo através dos meus. O fundo acinzentado pulando pra fora dos olhos, o sorriso de lado no rosto. Rondava por mim caçando olhares, se escondia atrás de outros olhando de longe como se fosse algum tipo de jogo. Não perguntava nada, tão menos respondia, só dizia as coisas, uma atrás da outra, falando rápido, trocando as letras, se perdendo entre os murmúrios. Esperava pelos meus olhando no relógio, caminhava impaciente com os pés descalços em frases soltas. Sorria e tentava dizer alguma coisa nos segundos que se passavam, sorria de volta andando devagar sentindo seu olhar pelas costas.

N.

fevereiro 13, 2007


pega um cigarro amassado de dentro do bolso, acende. a fumaça vai consumindo tudo tudo até soltar aquele rangido. é falta de óleo.falta de óleo sim ,eu sei que é, eu sei.nhem nhem vai ficar fazendo até não agüentar mais . dai vai e acende outro, mas um daqueles outros. a fumaça te enrosca, aperta, e faz apitar tudo, um silencio absoluto. mas volta fazer nhem nhem nhem e é essa a hora que você sabe que tem que dormir e acabar de vez com o atrito dos pensamentos.

N.

fevereiro 10, 2007

E dói lá no fundo. dói doido, corroe. corroe perna, corroe braço, músculo e osso, corroe o sangue, a mente, o brilhantismo amansado. Te come por dentro, deixa podre. podre mesmo igual uma maçã, cheia de bicho, fel, ódio, escarro. cospe cospe e sai bicho e mais bicho. podridão. Ai que nojo! Nojo. Nojo de você e desses seus bichinhos come-come.


N.

novembro 21, 2006

[ ]



eu me lembro dele, era aquele tipo de cara que você tem que olhar duas vezes. calado, distante, as palavras saiam pelos olhos. e aquele olhar, ah, mas que olhar, perdi o fôlego e qualquer outra coisa que pensava que tinha. levava-me a um lugar diferente de todo o resto. abria a boca e saiam aqueles erres cheio de explicações e alucinações realistas. o frio percorrendo os ânimos. olhares furtivos e sorrisos nervosos. uma coisa quase automática. um delicioso vício corroendo os neurônios, despertando anseios.
olhos pretos, cabelos pretos e mãos de desenhista.
N.